Módulo 4: Educação inclusiva

Planejamento pedagógico na prática

O nosso cérebro é uma máquina poderosa e complexa, que evolui enquanto navegamos em um universo igualmente complexo e desafiador. Se a todo momento nos deparamos com barreiras e desafios, existem formas de romper com eles e de superá-los.

Dada a abrangência de elementos com que precisamos lidar em qualquer situação, é inimaginável assumir que exista apenas uma forma de apreensão do conhecimento. Ainda assim, as metodologias mais tradicionais de ensino parecem estar baseadas na aprendizagem como uma via de mão única, composta de poucos elementos. A escola tem privilegiado a linguagem oral e escrita como as formas canônicas de apreensão, mas existem outras formas de expressão que também são formas de linguagem. A linguagem corporal, as expressões faciais, os sons, como suspiros, gemidos, muxoxos, gritinhos de excitação, por exemplo, são formas de comunicação importantes e, portanto, também formas alternativas de apreensão do conhecimento. A organização da sala, o gestual, as formas de instruções individualizadas podem ser recursos poderosos na mão de professoras(es).

Vimos anteriormente que o Desenho Universal para Aprendizagem (DUA) propõe três princípios: oferecer múltiplos formatos de apresentação do conteúdo; oferecer múltiplos métodos de apreensão; oferecer múltiplas opções de envolvimento com o conteúdo. Esses princípios se conectam com três redes de aprendizagem no cérebro: as redes de reconhecimento, estratégicas e afetivas.

A questão é: como colocar esses princípios em prática?

Podemos apresentar aqui algumas abordagens que servem de ponto de partida. Lembre-se, entretanto, de que não se trata de receita, são apenas exemplos. O ponto de partida é a criatividade de cada professora(or) para superar os desafios cotidianos da prática de sala de aula, planejando com antecedência formas de envolver as(os) estudantes no processo de ensino-aprendizagem.

Separamos duas abordagens diferentes: a abordagem por jogos cooperativos e a abordagem por desafios.

Abordagem por jogos cooperativos

Uma das grandes vantagens dos jogos cooperativos é que limitam bastante as situações de exclusão. Em vez de competirem uns contra os outros e por vezes eliminar estudantes da prática daquela aula, eles possibilitam uma interação mais participativa, a criação de vínculos no interior do grupo, a possibilidade de cooperações para além daquelas que as(os) estudantes já estão acostumados.

Os jogos cooperativos podem ser criados a partir do zero ou podem ser jogos e esportes conhecidos, com pequenas adaptações. Nos vídeos de práticas dos diversos módulos deste curso, há uma variedade de exemplos bastante simples de serem reproduzidos em quase qualquer contexto. Algumas toalhas divididas entre duplas de estudantes e temos, por exemplo, um jogo de vôlei.

Vantagens dos jogos cooperativos:

Evitam situações de exclusão;
Diminuem as chances de experiências negativas;
Estimulam um clima de alegria e descontração;
Promovem o respeito às diferenças.

Quando se retira a necessidade principal de vencer o jogo, a cobrança diminui e abre-se mais espaço para o erro, o que é fundamental para a aprendizagem. Além disso, esse tipo de atividade estimula o clima de alegria e descontração e fortalece o grupo porque todos participam com uma meta em comum. Outro fator importante: estratégias desse tipo estimulam a aprendizagem em pares e a comunicação entre duplas, estabelecendo, muitas vezes, laços não propiciados em outras oportunidades.


Abordagem por desafios

Assim como a abordagem por jogos cooperativos, a abordagem por desafios requer alguma criatividade no momento de planejar as atividades. Em geral, essa abordagem exige procurar diferentes formas de fazer a mesma atividade para adequar individualmente os desafios para cada estudante. Com desafios individuais, é possível respeitar o tempo, as habilidades e as potencialidades de cada uma e cada um.

Um exemplo disso é a prática escolar do salto em altura. Na maneira mais tradicional de organizar o salto em altura, usa-se uma corda para definir a dificuldade e, conforme a atividade ocorre, a corda sobe, aumentando a dificuldade. Quem não consegue atingir o nível de dificuldade proposto é eliminado da brincadeira. Mas são justamente as pessoas que ficam de fora que necessitariam de mais atenção ou de um tempo maior na atividade para poder aprender. Uma solução possível é subir somente uma das pontas da corda conforme sobe a dificuldade. Isso cria uma situação de inclinação que permite que a(o) estudante escolha sobre qual ponto da corda ela ou ele quer saltar. O desafio progride, mas cada um pode fazer no seu tempo, sem que ninguém precise ser excluído.

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A competição é uma prática necessariamente excludente?

Mesmo existindo vantagens em se fazer atividades cooperativas, não se pode negar a competição aos estudantes. No entanto, é possível ressignificá-la a partir da adaptação de regras e do cuidado na aplicação em cada contexto. Tudo depende de como a(o) professora(or) baliza a prática.

Competir com objetivo de ganhar a qualquer custo pode facilmente degringolar para uma prática excludente. Porém, competir como oportunidade de testar os próprios limites, vivenciar as situações com colegas e descobrir diferentes habilidades pode ser uma prática bastante oportuna e inclusiva. Se o que baliza a prática, competitiva ou cooperativa, é a valorização da diferença e a descoberta das vantagens delas, então dificilmente será excludente.

Com isso em mente, é possível pensar diferentes ferramentas para equilibrar a competição:

Possibilidades para abordagem por desafios:

Diferentes formas de fazer a mesma atividade com desafios individuais;
Diferentes organizações para equilibrar a competição;
Utilizar o papel do coringa.

Uma estratégia pode ser o uso de uma(um) estudante como coringa, por exemplo, que não faz parte de nenhuma das equipes, mas está em jogo e passa a bola, arremessa, bloqueia para um ou para outro time. Também é possível variar a formação dos grupos ou das equipes pela forma de escolha: dividir por data de aniversário, pela inicial do nome ou pela cor do tênis, por exemplo. O importante é conseguir diferentes formações para que as(os) estudantes não fiquem apenas nos mesmos grupos ou cumprindo sempre as mesmas funções.

É muito importante também utilizar atividades que ressaltem as habilidades das(os) estudantes e não suas dificuldades. Mudar o foco das incapacidades para as possibilidades é pressuposto para o planejamento de práticas inclusivas, para as pessoas com e sem deficiência. E combinar isso com estratégias de reforço positivo, como valorização das tentativas e da busca para realizar a atividade, pode tornar a aprendizagem muito mais efetiva.

Por fim, vale lembrar que as(os) estudantes têm conhecimentos prévios e são seres ativos, e que a(o) professora(or) é uma(um) mediadora(or). É possível permitir que as(os) estudantes participem do desafio da inclusão: não vir com as regras e adaptações prontas, mas fazer com pensem novas regras, planejem adaptações, desenvolvam e experimentem as atividades que elas(es) mesmos criaram de forma a englobar a todas, todos e cada um.

É preciso lembrar sempre que as maneiras de apreensão do conhecimento são muitas e variadas. A escola tradicionalmente valoriza a leitura e a audição, mas o tato, o olfato, o movimento, a visão também podem ser utilizados, seja pelo seu estímulo, seja pela sua privação. A chave é usar a criatividade para romper com dificuldades: utilizar recursos disponíveis de maneiras não pensadas. E lembrar que não estamos sozinhos: a troca e intercâmbio de experiências tanto com suas(seus) estudantes, quanto com familiares e outros profissionais, costuma ser enriquecedora para quem está aberto.

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