Módulo 4: Educação inclusiva

A importância da relação entre família e escola

Exercício livre

Como profissionais da educação, estamos acostumadas(os) a pensar na importância da escola na vida de crianças e adolescentes. Mas você já fez o exercício de pensar em uma perspectiva um pouco mais ampla e se perguntar sobre a importância da escola na vida das famílias?

Antes de prosseguir a leitura, gostaríamos de propor um exercício. Um exercício de reflexão, sem respostas corretas ou erradas e, portanto, sem gabarito. Separe seu material de anotações – seu caderno, seu arquivo de texto, seu gravador, sua câmera ou qualquer outro que você use e se sinta confortável e discorra livremente sobre essas questões:

Qual a importância da escola na vida das famílias? Como essa importância se manifesta? Você acha que essa importância pode ser diferente de família para família? Se sim, como ou em que sentidos?

Inclusão escolar e inclusão social

Características

A inclusão escolar está inserida no contexto mais amplo da inclusão social. No entanto, devido às características do trabalho escolar, isso nem sempre se manifesta de maneira tão clara. A escola é fundamental para a inclusão de crianças e adolescentes na sociedade. No entanto, um aspecto que pode passar despercebido é que o processo de inclusão escolar está relacionado também à inclusão da família. O processo de inclusão social familiar pode iniciar com a inclusão escolar dessa família.

Instituições

Um dos conjuntos de componentes de uma sociedade são as suas instituições. Existe uma relação complexa entre elas, mediada por muitos fatores e atravessada pelo conjunto geral das relações sociais. Essas relações acabam dando às instituições seu papel no conjunto da sociedade, que pode ser de contenção, de regulação, de preservação, de avanço, entre outros. A família é a instituição de origem de uma criança, enquanto a escola, geralmente, é a primeira instituição social que ela frequenta.

Complementaridade

Assim, haverá certamente uma relação entre essas instituições, que pode se dar de diversas formas. O mais adequado é que seja uma relação de complementaridade, de aproximação, mas isso requer um esforço ativo. A escola é uma referência importante para muitas famílias e pode ter bastante peso para as famílias de pessoas com deficiência.

Agentes

É preciso entender que, na relação com as famílias, educadoras(es) e gestoras(es) são agentes da instituição de ensino. No caso das escolas públicas, também são agentes do estado. Assim, muitas vezes, a escola é o primeiro contato, e o mais duradouro, onde é possível se informar sobre os direitos de suas(seus) filhas(os), as legislações que os garantem e os mecanismos de reivindicação. Falamos, então, que a educação é um direito que garante outros direitos e, por isso, sua importância na formação cidadã de crianças e adolescentes. Portanto, uma postura de apoio e acolhimento pode ser a diferença entre a garantia ou não de direitos para muitas famílias.

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A psicanalista e pesquisadora da educação Maria Cristina Kupfer disse uma vez sobre o papel da escola:

A escola é uma instituição poderosa quando lhe pedem que assine uma certidão de pertinência: quem está na escola pode receber o carimbo de ‘criança[1]

Negar a presença ou negar a participação efetiva de crianças com deficiência é negar a elas seu status de criança, podando de partida suas potencialidades.

Da mesma maneira, é a participação em igualdade de condições com outras crianças no processo de ensino-aprendizagem que dá a medida real da inclusão. É preciso que as famílias se sintam parte da escola. Isso significa que os familiares devem se sentir convidados não apenas para reuniões burocráticas e festas ou outras atividades voltadas para as famílias. É necessário dialogar com as famílias de modo que elas possam contribuir de forma ativa no desenho da escola que seus filhos frequentam.

Aqui reside a necessidade de atingir um certo equilíbrio. Nenhuma família está imune a sentir as pressões sociais no que tange à educação de seus filhos. Mas isso pode se manifestar de maneira bastante opressora sobre famílias de crianças com deficiência. Um dos papéis da escola e de educadoras(es) é interpelar familiares, lembrá-los dos direitos das(os) filhas(os), conversar sobre questões pedagógicas, comportamentais. Para manter uma escola aberta à família, é muito importante não culpabilizar pais, mães e demais responsáveis pelas(os) estudantes por essas questões. Muitas vezes, eles(as) já estão sob o peso do julgamento alheio e, inclusive, temem que a escola os(as) julgue também.

[1] (Kupfer, M. C. M. Educação para o futuro: psicanálise e educação. São Paulo: Escuta. 2000, p. 92)

A(o) educadora(or) não deve abrir mão de interpelar os familiares, pois isso faz parte de suas atribuições. Mas deve fazer isso sem uma atitude de policiamento, de patrulhamento. É preciso evitar ao máximo posturas que deem a impressão de tomar conta da vida privada da(o) estudante e de sua família. Em vez disso, o mais adequado é adotar uma abordagem de chamado, de abertura ao diálogo, dentro de um processo mais longo de promover as condições para que a família leve a(o) estudante ao universo da escola. Não há receita para isso, mas uma boa prática é o diálogo honesto e aberto com a família sobre as dificuldades, as dúvidas, as angústias, os desafios, tanto delas quanto as da(o) própria(o) educadora(or).

Vale aqui a ideia de que a escola não é a detentora única de todo o conhecimento. Ela não precisa dar todas as respostas. Pelo contrário, ela pode fazer algo ainda mais produtivo que é potencializar as competências da família. É fundamental saber escutá-la, bem como respeitar seus valores e crenças e criar soluções conjuntas. No caso de estudantes com deficiência, as famílias têm experiência, conhecem as vivências e, por isso, têm muito a contribuir na definição de estratégias que mobilizem sua plena participação. A função da escola é fazer com que elas cheguem às próprias respostas. E isso inclui, também, questões sobre direcionamento pedagógico.

Valorizar os saberes que a(o) estudante traz de casa possibilita uma maior contextualização do aprendizado e aumenta o vínculo com a escola. Atividades e mecanismos que atraiam as famílias para a escola, potencializem a sua participação e enriqueçam o processo escolar com a sua contribuição podem ser uma boa ideia para desenvolver no módulo Criando um projeto de intervenção. Lembre-se disso!

A escola é um importante agente de inclusão social e essa característica não deve ser secundarizada. Atividades como visita a museus, parques e bibliotecas da cidade são formas de apropriação do espaço público e de participação na vida comunitária. Ampliar o repertório cultural das(os) estudantes também é um instrumento importante na inclusão. O mesmo vale para as famílias.

Por fim, é vital lembrar, salientar e grifar: não existe a família ideal. É papel da escola reconhecer e respeitar os diversos arranjos familiares, incluindo também o respeito às diferenças étnico-raciais, religiosas, culturais, socioeconômicas, de identidade de gênero, entre outras características da diversidade humana. Inclusão na prática, real, efetiva, passa pela inclusão de todas as famílias.

Retomada

Agora que você leu o texto, retorne às respostas que você deu ao exercício de reflexão. Você mudaria alguma coisa nelas? Retiraria ou acrescentaria alguma coisa? Por quê?

Sinta-se à vontade para retomar o assunto sempre. Você pode dividir sua experiência com esse exercício debatendo essa e outras questões Portal DIVERSA